sexta-feira, 6 de março de 2015

“Angústia de um professor que também é uma pessoa”


Desde os 10/11 anos que queria ser professor… influência da admiração que tinha pelo meu professor de educação física do ensino preparatório (actual 2º ciclo). “Caminhei” nesse sentido e mesmo contra a vontade dos meus pais, percorri o caminho do ensino (secundário e superior) para que tal desiderato fosse alcançado… Assim, cá estou eu… na Escola desde 1981 e como professor desde 1997. Não é muito tempo (a caminho dos 20 anos) mas já é o suficiente para viver diferentes fases da nossa Escola. E ser professor como sou, por opção e convicção de que me dirigia para o que gostava de fazer e queria desempenhar, é uma sorte… mas que procurei com determinação. Ao longo de toda esta (meia) carreira as coisas foram-se modificando demasiado para uma instituição basilar para qualquer sociedade. E porquê? Apenas porque não é “pensada”. A Escola não é “pensada”! A Escola é (mais) um instrumento que politicamente se pode modificar, “apertar”, investir, cortar, visitar, inspeccionar, tornar mais “participativa”… enfim a Escola pode ser o que qualquer governo ou ministro “sonha” ser a sua “salvação”. Se não vejamos: neste período de 18 anos não conheço nenhuma medida, nenhuma política ou opção escolar que venha promover a melhoria do processo ensino aprendizagem, que, no fundo, será o principal papel da Escola. Desta forma não podemos esperar que os nossos alunos venham motivados, determinados e/ou alegres para um “emprego” que se diz para eles, mas no qual, sempre que se tomam novas medidas, estas não os beneficiam. Em nada! A Escola onde lecciono foi recentemente intervencionada. A sala dos alunos fica entre o bufete e a sala dos professores. Será que quem a “redesenhou” tem noção do que são 80 professores mais 600 alunos a cruzarem-se nos pequenos intervalos de que ambos os grupos dispõem? E as salas? A maioria tem capacidade para 28 alunos e o ministério 2 anos depois aumentou o número máximo para 30. Esta Escola foi “pensada”? Há uma “ideia” de Escola para o futuro? Estes são os motivos de alguma angústia que os que servem a nossa Escola pública vivem no dia-a-dia. Não se pense que é só a forma como se processa a avaliação dos professores, a redução das benesses numa carreira de incalculável desgaste, a nossa sociedade considerar que os professores têm muitos períodos de interrupção lectiva ou os “concursos” com critérios que servem alguns “momentos”, que levam à situação de generalizada desmotivação actual. É todo um conjunto de factores, quase todos externos às próprias Escolas, que apontam para aquilo que não é importante e que desgasta o que é importante… e entenda-se que o que mais importa é o que conseguimos “dar” aos alunos... e esta transmissão será melhor se, entretanto, e pelo menos, consideramos (nós – sociedade) importante quem lidera esse processo de ensino. Mas quando até os nossos superiores hierárquicos nos desconsideram…

Autor - "Anónimo"